Alguns números do mercado da aviação no Brasil são bastante conhecidos, outros nem tanto.

Talvez você saiba que a frota de aeronaves com matrícula brasileira chegue perto de 26.500, mas é pouco provável que você saiba, por exemplo, o número de aeródromos registrados em todo o Brasil.

Um país com dimensões continentais como o Brasil, com uma malha rodoviária em condições precárias e com a malha ferroviária praticamente inexistente, tem na aviação, em muitos locais, a única opção de acesso.

Essa consideração somada ao tamanho da frota brasileira e também somada às principais atividades econômicas de cada estado, nos dá algumas pistas sobre a quantidade de aeródromos existentes no Brasil e na sua distribuição por estado.

O Brasil tem, segundo dados da ANAC, 2.752 aeródromos espalhados por todos os estados da federação. Desse total, 569 são públicos e 2.183 privados. A título de comparação, nos Estados Unidos existem 19.636 aeródromos registrados, entre públicos e privados.

Além dos aeródromos, o Brasil possui ainda 1.228 helipontos registrados.

A distribuição dos aeródromos entre os estados é uma clara demonstração da relevância da aviação geral em cada um deles e carrega uma correlação direta com as atividades econômicas desenvolvidas em cada região.

São Paulo, estado mais rico e populoso da federação, não é, por exemplo, o que possui o maior número de aeródromos registrados. São Paulo fica apenas em terceiro lugar nessa lista.

Os dois estados que concentram a maior parte dos aeródromos registrados do Brasil são os campeões da produção agropecuária, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em primeiro e em segundo lugares respectivamente.

Mato Grosso possui 504 aeródromos registrado enquanto Mata Grosso do Sul tem 425. O número de aeródromos registrados por estado, estão nos dois gráficos abaixo.

 

Fica claro pelos números que a quantidade de aeródromos registrados em um estado tem relação direta com o tipo de atividade econômica predominante, com a dimensão territorial do estado e com a ausência de uma malha rodoviária abrangente. Outro ponto também precisa ser destacado é a relação das pistas de pouso e aeródromos privados com atividades ilícitas relacionadas ao tráfico de drogas e contrabando de mercadorias.

O número de aeródromos e a sua distribuição por todo o território nacional é fundamental para o desenvolvimento econômico e principalmente para o crescimento da aviação.

Você pode estar se perguntando agora o que é necessário para registrar e aprovar uma pista ou um aeródromo e quais são os critérios de segurança adotados para essa aprovação.

Hoje, a principal exigência para aprovação de um aeródromo é a elaboração do PBZPA. O PBZPA, ou Plano Básico de Zona de Proteção do Aeródromo, é um estudo que avalia o entorno do aeroporto e que delimita o que pode e o que não pode estar presente dentro desse entorno.

Em linhas gerais, até para ficar mais claro para você entender, o PBZPA é um estudo que identifica todo e qualquer objeto, construção, relevo ou obstáculo que esteja dentro da área ao redor do aeródromo e que pode impactar na segurança da operação de aeronaves. O PBZPA define as áreas em que podem e as áreas em que não podem existir esses obstáculos e estabelece as alturas máximas que eles podem ter em uma relação direta com a distância em que se encontram do eixo da pista ou das cabeceiras de pouso e decolagem.

O DECEA e a ANAC passaram a exigir a apresentação do PBZPA para todos os aeródromos do Brasil, públicos ou privados, há poucos anos. Desde então, uma parte muito grande das pistas registradas no país, por não apresentar o Plano, ficou em situação técnica irregular.

A situação talvez seja mais crítica para os aeródromos públicos que, por causa de burocracia dos processos licitatórios, até hoje não foram regularizados e muitos já foram interditados ou correm risco de ser.

A aviação, fundamental em muitas regiões e única solução de acesso em tantas outras, fica imobilizada e acaba imobilizando consigo diversas atividades econômicas por todo o Brasil.

Da mesma forma que o transporte rodoviário sofre com a péssima qualidade da malha a aviação também sofre e se emperra com a interdição de pistas em todo o Brasil. É mais um retrato de um país que insiste em desprezar a infraestrutura  e empaca nos avanços que pode fazer com parcerias com a iniciativa privada. A privatização dos grandes aeroportos do Brasil demonstrou que é possível termos uma solução. Essa solução não pode se concentrar apenas nos grandes aeroportos.

 

Felipe Nardi – Sócio Diretor Jazz Engenharia Aeronáutica